Miss the raindrops against my window.

Um dia ainda volto a escrever... Até lá, fico só aninhada na manta a ver a chuva escorrer na janela.



22 novembro 2008

GUIDE GONE

Promise me
You leave the light on
To help me see
Day light my guide gone


1. ANTES

Embrenhada em uma névoa mundana, esquiva e ausente, levava um pé atrás do outro na ilusão que o levava para à frente. Seguia rumo a nada, tal delírio ou miragem, eu acreditava apenas viver um sonho. Eu confiava em mim, em ti. Confiava no Fado, cria que ninguém seria capaz de tal façanha.

Estava finalmente segura, completa. Aconchegada no teu peito não pensava, simplesmente existia. Uma existência superior, que não desejava nada mais agora que tinha tudo o que precisava. Também não desejava obter respostas pois não tinha qualquer irresolução: eu pertencia-te e tu correspondias o meu carinho, a minha confiança, a minha necessidade por ti. Isso era suficiente, aliás era tudo o que eu desejava. Não pretendia nada mais para a minha existência, naquele ou em qualquer outro momento.

Havias me interrogado alguma vez se, hipoteticamente, mudava algo na minha vida. Confesso que hesitei quando me impuseste a tua presença na minha existência prematuramente. “Então? Que dúvida é essa?” Insistias inseguro. Nunca compreendi essa insegurança. Eu era tua. Sentença pura e simples no momento que mudaste o meu mundo, como uma fonte de agua límpida acabada de brotar no deserto mais seco e mais necessitado da sua presença. Tudo em mim te pertencia. Cada pedaço de mim gritava por ti. Cada partícula que corria nas minhas veias insistia em fluir ininterruptamente, gradualmente mais forte, mais confiante, mais veloz, ansiando cada segundo que se iria seguir apenas por um motivo: Tu.

“Se tivesses oportunidade de mudar o teu passado não me tinhas conhecido mais cedo?!” Acabaste por exclamar desiludido e ansioso, afastando-me um pouco mais de mim. Eu vivia apenas por ti, não tinha nada que me ligasse àquele mundo frio senão tu, mas também não desejava nada mais. Não mudaria nada.


Não. Acabei por responder, vendo-te desvanecer lentamente face à verdade que naquele momento te pareceu cruel.

Eu nunca mudaria nada no que vivi, tendo sofrido muito ou pouco. Tendo errado ou ajudado muita gente. Eu não seria capaz de por em causa o teu abraço quente a envolver-me. Nunca mudaria nada, mesmo cruzar os nossos caminhos mais cedo, nada valia o sorriso glorioso que se rasgava naquele momento pela tua face. Nada batia o toque suave da tua mão quente a arrastar-se pela minha face. Nada era mais precioso para mim que a sensação que esse toque provocava na minha pele, sensação essa que descia pelo meu pescoço, escorrendo rapidamente pela minha coluna, arrepiando-me violenta porem deleitosamente. Nunca mudaria algo no meu passado, porque por mais que, no julgamento de outrem, essa alteração pudesse aliviar o que não vivi, tudo isso não passava de isso mesmo: Passado. De tudo o que me rodeava tu eras o único a quem eu dava valor, a quem eu me dava de todo. Eram os momentos contigo que eu não queria esquecer, portanto porque havia de querer alterar algo que os poderia adulterar? Não. Eu não mudaria nada na minha vida, terminei. Confiante de que os nossos caminhos permaneceriam cruzados eternamente.

Nós éramos um só. E era assim que eu pretendia manter-nos. Nos teus braços eu pensava estar protegida por toda a natureza, sentia os quatro elementos envolver-nos num escudo impenetrável. Eu acreditava que todo o universo conspirava por nós, porque como um só que éramos, não poderíamos de maneira alguma ser afastados. Que sentido faria isso? Nenhum. E por isso eu seguia cegamente por aquelas ruas movimentadas, que neste momento apenas são como uma névoa para mim, talvez efeitos secundários do que sofri talvez por pertencer a outra vida, a outras pessoas. A um casal feliz que decerto não somos nós. Alguém que tinha toda uma vida pela frente, que acreditava em promessas de amor eterno. Alguém que acreditava em Deus.

Eu era como uma luz intensa que iluminava tudo com a sua intensidade. Com a minha ventura. Acreditava que nada nos poderia afectar. Eu protegia-te e tu preservavas a minha alma sã. Tu eras o meu sangue e eu o teu coração: eu pulsava em ti e tu fluías em mim.


Como poderiam separar-nos? Não sabiam que sem sangue o coração não ia palpitar? Não sabiam que sem coração o sangue ia estacar? Desconheciam esse facto tão comum? Ou ignoraram-no, num acto de leveza incrivelmente cruel?

Talvez o censurassem. Talvez esta fosse a sua maneira de provar que podiam seguir rumos separados, que ambos foram criados de modo a serem suficientemente autónomos para superarem tudo. Afastados.

Contornando ruídos e desabafos seguia rumo a nada, seguia para o meu cruel destino. Ou rumo à falta dele.

3 comentários:

Maria disse...

"Nós éramos imortais; voltaríamos sempre um ao outro."

Gosto deste.

Maria disse...

De certa forma, acho que podes considerar como tal.

Maria disse...

é apenas o que me faz andar.
e eu gosto tanto deste texto, mesmo. *-*