Miss the raindrops against my window.

Um dia ainda volto a escrever... Até lá, fico só aninhada na manta a ver a chuva escorrer na janela.



02 julho 2008

LUZ DE PRESENÇA






Senti frio.
Ergui a cabeça,
Mas não abri os olhos para realidade.

Já não estavas lá.
Apenas sentidos,
Nada mais.
Nem o vapor no espelho ficara.

Ordenei ao meu corpo que se levantasse.
Ignorou.
Insisti, «tens que te recompor».
Então, de orgulho ferido arrastou-se.
Reneguei o meu reflexo.
Aquilo não era eu,
Não era possível.

Presa no que não desejara,
Já não me conhecia.

Arrastei outro pé.
«Porque não estás comigo?»

Já não te reconhecia,
O teu sabor em mim não passava de uma ilusão.
Os meus sentidos atordoados pelo teu toque,
Cada bater de coração.
Tudo passado.

Deixei-o afundar-se sobre o gelo luminoso.
Sem pensar, sem sentir,
Ergui o olhar,
E, quase num reflexo vi a solução.

Tudo agora fazia sentido.
Não tive medo.
Decidi enfrentá-lo.

Fitei-o até que nos voltássemos a tornar num só.
Por momentos senti que tudo estava bem.
Mas não. Apenas outra ilusão.
Não estava bem,
Mas sim desperta.
Lentamente, comecei a reconhece-lo.
Era eu, conseguia senti-lo.


Vi uma sombra mover-se ao longe.
Voltara.
Virei-me.
Agora, com todos os sentidos em mim,
Procurei-o.






Não podia conformar-me.
Não podias tornar-te passado.
Ilusão,
Reflexo ideal do impossível.

Não estavas lá.
Um arrepio.
Bloqueei.
«És, foste tanto».
Não podia ser verdade.
Deixei de me sentir.
«Não, não pode ser verdade.
Não é verdade.»



Cerrei os olhos com toda a força que me restava.
Desejei.
Implorei de cabeça erguida.
E senti o meu sangue voltar a correr, ardente.
Preenchendo cada milímetro do meu ser, para logo se tornar cinza.
Tudo se desvaneceu em cinzas.
Pó, vestígios de um fogo ardente.
Que o orvalho levou.

Voltei a sentir medo.
Pânico, quis gritar.
Mas tive medo.
Recusei-me a abrir os olhos,
E a sombra apoderou-se de mim.

Os meus sentidos, tornados então gelo pálido.
Terra húmida do que um dia fora neve resplandecente.
Cai em terra firme, de vez inânime.
Fim de jogos, de ilusões e reflexos.
Fim de vida, de sombra, fim de neve.
Fim de pesadelos e vontades.

Já nada importava, nunca mais, para sempre.
Tudo o mesmo.
Acordei, eternamente sem sentidos.
Agora tudo se tornara obvio.
Finalmente, realizei…
Terias estado comigo alguma vez?

Quis abrir os olhos, mas era tarde demais.
Eternamente sem sentidos.

Reliquias - Um qualquer teste de português



Numas vezes o Sol já se de pôs, noutras ainda brilha alto mas de qualquer das maneiras é sempre um dia acabado.
Noutras vezes não levo a vontade comigo, em algumas não levo também a cabeça, mas companhia nunca me falta.
Tagarelando ou fechada no meu mundo levo um pé à frente do outro, saltando três degraus para logo me arrastar por outros, contornando ora esquinas ora pessoas, vou seguindo por ruas e cafés, umas vezes ansiando o meu sofá, outras nem podendo já acreditar estar de volta ao meu destino.
Com pressa, sem notar onde piso ou calmamente, olhando um pardal a debicar algo desço mais uma rua. Viro uma e outra vez de sentindo, seguindo sempre a confusão até me deparar com algum peixe a lutar pela sua vida, debatendo-se por não desistir.

Nessas alturas apresso o passo, viro a cara uma e outra vez ignorando a zebra por baixo dos meus pés.
Já vendo o meu destino aproximar-se vejo uma última montra ou certifico-me que tudo está no mesmo sítio, entro pela porta brilhante, desconfiada olho para trás e subo o íngreme verde.
Acabo por cumprir o meu diário destino, caindo sem forças no, agora desejado, sofá.